quinta-feira, agosto 17, 2006

Professora, me leva para as Olimpíadas de Matemática!

Texto produzido por Ana Cousseau

Em maio deste ano, assim que entrei na sala de aula e soltei meu material sobre a mesa, ouvi um pedido inesperado do Maiquinho: “Professora, me leva para as Olimpíadas de Matemática!” Imediatamente, respondi: “Não vamos até às Olimpíadas: elas é que virão até nós. Já fizemos a inscrição. Nossa escola participará, sim.”
Associamos a palavra olimpíada aos jogos que acontecem de quatro em quatro anos, originariamente efetuados na cidade de Olímpia - na Grécia antiga – e que, depois de um longo tempo esquecidos, foram retomados em 1896. A relação com o esporte é tão evidente que freqüentemente se ouvia a seguinte pergunta: “Quando é que vai acontecer a Maratona de Matemática?”. Vamos abrir outro parêntese para falar sobre o sentido de maratona: corrida pedestre de cerca de 42 km - distância de Maratona a Atenas. Segundo o dicionário, pode significar também, uma competição esportiva, lúdica ou intelectual. Talvez, fosse mais adequado chamar a Olimpíada de Matemática de Maratona de Matemática. Aliás, as maratonas acontecem todos os anos, assim como as Olimpíadas de Matemática.
Expliquei às turmas que a organização dessas olimpíadas é diferentes dos jogos olímpicos que conhecemos através da televisão e dos jornais.
As provas não são realizadas diante de uma torcida numa cidade escolhida e para onde se deslocam várias equipes. O local da competição é na própria escola.
Na verdade, os testes são individuais e tradicionais - vinte questões com cinco alternativas cada uma. As habilidades avaliadas são teóricas e não físicas.
Os alunos que se destacarem nas provas poderão receber medalhas de ouro, prata ou bronze. Alguns ganharão bolsas de estudo.
Essa participação gerou expectativas e experiências interessantes. No dia da prova, havia alunos dizendo que estavam ansiosos para fazê-la, outros sentiam uma “dorzinha de barriga” e não faltaram os “indiferentes que chutaram resultados porque não valia nota para o boletim”.
Depois, revendo e corrigindo as questões, percebemos como muitas crianças vibravam ao descobrir que acertaram determinados problemas. Os comentários mostravam a repercussão: “Eu falei com minha mãe sobre o problema do tanque de gasolina do carro. Era fácil, eu não podia ter errado.” Outros riam por terem se atrapalhado: “E aquele da régua? Caí direitinho.” E havia observações que nos davam a certeza de estarmos no caminho certo, enquanto educadores: “Eu entendi aquela questão das peças porque era igual aquela que a professora ensinou pra nós com o material dourado.”
E, antes de divulgar os resultados, quando souberam que a lista dos classificados estava pronta, não faltaram tentativas pra conhecer antecipadamente o nome dos que nela constavam: “Diz pelo menos se alguém da nossa sala passou. Por favor, professora!”
Olhando às folhas amarelas – prova do nível I - e rosas – prova do nível II – me perguntei: “Quais são as possibilidades de alguém acertar todas as vinte questões que nelas constam, apenas chutando uma das cinco alternativas?” Peguei uma calculadora simples e não consegui porque o resultado ultrapassava os oito dígitos que podem aparecem em seu visor. Troquei-a por uma científica e também não deu um valor preciso porque esta podia apresentar somente doze dígitos. Finalmente, tive que usar a calculadora do meu computador, que aceita até trinta e dois dígitos e assim, consegui a resposta: uma chance em noventa e cinco trilhões, trezentos e sessenta e sete bilhões, quatrocentos e trinta e um milhões, seiscentos e quarenta mil e seiscentos e vinte e cinco possibilidades. Parece impossível? Graças aos conhecimentos matemáticos podemos provar que não é. E, inclusive, tivemos a certeza de que para se sair bem em uma prova é necessário ter mais conhecimento do que sorte.

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