terça-feira, agosto 15, 2006

A plantinha que ninguém vê

Jornal de Cocal: 31 de maio de 2006

Crônica escrita pela professora Ana Lúcia Pintro

Há uma rachadura no alto da parede lateral do Palácio do Estado, antigo Fórum de Criciúma.
Os azulejos trincados chamaram minha atenção por causa de uma plantinha de uns vinte centímetros que vingou num lugar incomum. Encantada, olho para ela, que parece olhar as bandeiras hasteadas logo à frente. Impressiona-me o lugar onde a natureza a colocou e a sua resistência às intempéries e inconveniências.
Eu a vejo como um símbolo do cidadão brasileiro que trabalha, pede socorro, luta pela sobrevivência , enfrenta os problemas, mantém a consciência tranqüila e sob o concreto urbano, sente-se isolado no meio de uma multidão. Apesar disso tudo, ambos, não desistem de viver: superam o frio, o vento, a fome, a sede, acomodações ruins, o barulho infernal das buzinas, a poluição do ar e a indiferença dos semelhantes.
O prédio do Palácio do Estado abriga: o Cartório Eleitoral; A Junta Militar; A Casa da Cidadania que atende pequenas causas através do trabalho desenvolvido por estudantes da UNESC; O Tribunal Regional do Trabalho – TRT; o Procon – órgão de defesa do consumidor; O Conselho Tutelar; o GAPAC – Grupo de Apoio e Prevenção à Aids; a União das Associações de Bairro de Criciúma – UABC; e uma Organização Não-Governamental chamada Amor Exigente que trabalho com usuários de droga. Não fiz uma pesquisa criteriosa sobre os órgãos e as instituições que ocupam esse espaço, mas acredito, que estou escrevendo informações corretas.
Aquela singela plantinha representa as diversas pessoas que entram naquele prédio para cumprir com um dever cívico, participar do processo democrático, denunciar, reclamar alguns direitos, colaborar com a sociedade, ajudar necessitados ou pedir apoio e orientação. Às vezes, desesperadas e fracas, outras, fortes e conscientes. Há casos de perplexidade diante dos abusos cometidos pelos seres humanos, de revolta em relação à desonestidade e de desinteresse pela pátria. Mas, existem também, ações bonitas de grupos preocupados em melhorar a vida dos habitantes de seu bairro, das famílias, dos doentes e dos desprivilegiados financeira e culturalmente.
Fico perguntado-me, se provoquei ou não, a curiosidade de alguém. Haverá um motorista esperando a sinaleira abrir ou um pedestre andando pela Rua São José, procurando pela pequena arvorezinha presa aos azulejos cor-de-rosa? Acho improvável porque pressinto que ela será esquecida antes de morrer, assim como as pessoas carentes de assistência e carinho. Nos comovemos com as lições dadas pela vida e logo as esquecemos. Infelizmente, é assim que somos!

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